domingo, 15 de fevereiro de 2009

POESIA

A FLOR E A FONTE:

"Deixa-me fonte".
dizia a flor tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava levando a flor.

"Deixa-me, deixa-me fonte"!
dizia a flor a chorar. "eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar".

E a fonte, rápida e fria,
com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

"Ai balanço do meu galho,
balanço do berço meu,
Ai, claras gotas de orvalho, Caídas do azul do céu"!...

chorava a flor e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte sonora e fria,
corria levando a flor!

"Adeus sombras das ramadas,
Cantigas do ruxinol;
Ai, festa das madrugadas,
doçura do por do sól;
Carícias das brisas leves,
Que abrem rasgoes de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar"!...

As correntezas da vida,
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
como a da fonte e da flor...


VICENTE DE CARVALHO


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